
Autor: Truman Capote
Página: 71
"Como de costume, porém, Willie-Jay compreendeu; desanimado, mas não desencantado, persistiu em cortejar a alma de Perry até o dia da libertação condicional e da partida de seu proprietário, na véspera do qual escreveu para Perry uma carta de despedida cujo último parágrafo era assim: "Você é um homem de paixões extremas, um homem faminto sem certeza de onde está seu apetite, um homem profundamente frustrado tentando projetar sua individualidade num quadro de conformismo profundo. Você existe num meio-mundo suspenso entre duas superestruturas, uma das quais é a auto-expressão e a outra, a autodestruição. Você é forte, mas existe um defeito na sua força, e a menos que você aprenda a controlá-lo, esse defeito acabará ficando mais forte que sua força, derrotando-o. O defeito? A reação emocional explosiva, totalmente desproporcional aos acontecimentos. Por quê? Por que essa raiva sem razão quando vê outras pessoas que estão felizes ou satisfeitas, por que esse desprezo cada vez maior pelos outros, e esse desejo de feri-los? Certo, você acha que são uns idiotas, sente desprezo por eles porque a moral, a felicidade deles é a fonte de sua frustração e do seu ressentimento. Mas são inimigos terríveis que você traz dentro de si mesmo - com o tempo, mais destrutivos do que balas. As balas são misericordiosas e matam suas vítimas. Essas outras bactérias, se as deixamos envelhecer, não matam, mas deixam atrás de si a carcaça de uma criatura devastada e retorcida; ainda existe fogo em seu interior, mas esse fogo só se mantém aceso alimentado pela lenha do desprezo e do ódio. A pessoa pode acumular com sucesso, mas não acumula sucessos, porque e o seu próprio inimigo e é quem se impede de usufruir plenamente suas realizações."