segunda-feira, 10 de junho de 2013

#Minha parte favorita - O jogador

Escolhi a parte do livro em que Alexis Ivanovitch está conversando com Paulina, sua amada, sobre o porquê que ela quer jogar na roleta. Por sua vez, ela retorna a pergunta a ele, e ele diz que quer ter dinheiro para conseguir tê-la. Para deixar, aos olhos dela, de ser escravo e passar a ser homem.
Livro: O jogador
Autor: Fiodor Dostoiévski
Página: 49

"- Sem dúvida é por isso que você espera me comprar: porque me acredita sem nobreza?
- Eu, comprar você? - gritei.
- Seu longo discurso fez com que perdesse o fio da narrativa. Se não é a mim, é a minha consideração que pensa comprar.
- Não, não é bem isso. Eu já disse, é difícil de explicar. Não se zangue com a minha tagarelice. Você está vendo que não se pode ficar bravo comigo: eu sou louco furioso. Aliás, afinal de contas, me é completamente indiferente, zangue-se se tiver vontade. Lá em cima no meu quarto, basta que eu me lembre do roçar do seu vestido para começar a me roer por dentro. E em princípio, por que você se zangaria? Porque eu me declaro seu escravo? Aproveite minha sujeição, aproveite antes que seja tarde. Você sabe que um dia eu a matarei? Não porque eu teria deixado de amá-la, ou por ciúmes, mas assim sem mais aquela, simplesmente, porque eu às vezes tenho vontade de devorá-la. Você ri?
- Absolutamente, eu não rio - disse com raiva. - E ordeno que se cale.
Ela parou, a fúria lhe tirava o fôlego. Deus é minha testemunha, não sei se ela é bonita, mas como me agrada quando está assim, diante de mim, muda de raiva! É por isso que gosto tanto de provocá-la. Talvez já tenha notado isso, e deixa-se levar de propósito. Eu lhe disse isso.
- Que infâmia! - gritou com repugnância.
- Que me importa. Você sabe que também é perigoso se encontrar a sós comigo: eu sinto muitas vezes uma vontade irresistível de bater, de estropiar, de estrangular você. O que, você acha que não chegaria a tanto? De que teria eu medo? Do escândalo? De sua cólera? Que me importa! Eu amo sem esperanças e sei que depois disso eu a amaria mil vezes mais. Se eu a matar, será preciso que eu me mate também. Mas esperarei o maior temo possível, a fim de saborear a dor atroz de tê-la perdido. Vou lhe dizer uma coisa inacreditável: eu a amo cada dia mais, e no entanto é quase impossível esse amor. E depois disso, você quer que eu não seja fatalista? Lembra-se, de quando me desafiou no Schlangenberg, e eu disse: "uma palavra sua e me atiro". Se tivesse dito aquela palavra, eu teria saltado. Você acredita que eu teria saltado?
- Que palavreado estúpido!
- Pouco me importa que seja estúpido ou espirituoso! Perto de você é preciso que eu fale, fale, fale... Então, eu falo. Renuncio a qualquer espécie de amor-próprio, me é completamente indiferente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...